Como os designers introvertidos podem atuar (e se destacar) com UX

As habilidades inatas dos introvertidos são ótimas ferramentas para a pesquisa e inovação nos times de design

Andressa Siegel
5 min readOct 30, 2018
Fonte: https://gohighbrow.com/portfolio/active-listening

Em minha última publicação, comentei sobre as dificuldades e barreiras que as pessoas introvertidas geralmente enfrentam nas empresas onde trabalham. Nesta, gostaria de conversar com vocês sobre as habilidades dos introvertidos com o design centrado no humano.

P.S.: comentarei especificamente sobre design por ser minha área de expertise, porém acredito que muito do que eu contar aqui pode se aplicar a outros times.

Conheci pessoas aspirantes a se tornarem UX designers, mas que enfrentavam o mesmo desafio: sua introspecção causavam-nas medo e paralisia com a possibilidade de ir a campo e entrevistar outras pessoas.

Você pode imaginar como isso era uma problema para elas, considerando que UX é sobre o contato direto com os usuários para entender suas dores e suas necessidades. O acrônimo criado pelo autor Steve Blank, o GOOB, que significa "get out of the building" (basicamente um "saia do escritório!"), pode ser realmente assustador para introvertidos.

O que pude aconselhar a essas pessoas e que gostaria de compartilhar com você, é sobre o que absorvi lendo o livro “O Poder dos Quietos”, de Susan Cain, e refletindo sobre as minhas próprias experiências.

Como superar os nossos medos

Eu e você somos como elásticos em repouso. Podemos nos esticar, mas só até certo ponto. Estudiosos chamam isto de “teoria do elástico” da personalidade.

Isso significa que todos nós podemos enfrentar os nossos medos, mas com um passo de cada vez. Isso é muito diferente do bem-intencionado, mas inútil conselho de que você deve engolir o choro e enfrentar seu medo de frente. Para uma pessoa que tem pavor de fazer apresentações, enfrentar um palco com mais de 2.000 pessoas pode até funcionar, mas é mais provável que provoque pânico, engendrando ainda mais seu cérebro em um ciclo de terror, medo e vergonha.

O que eu faço para superar meus próprios medos é me expôr repetidas vezes ao que tenho medo, em doses administráveis. Confesso que ainda não consegui fazer isso com aranhas (ugh!), mas tenho feito isso com apresentações, por exemplo. É provável que as demais pessoas que não têm essa dificuldade tentem reduzir seu medo em "Nossa, mas isso é fácil demais! Como que você não consegue?". Respire fundo, ignore o comentário e vá no seu ritmo.

Saiba que é possível, inclusive, que medos até então superados voltem em momentos inesperados. Todos nós estamos propensos a isso. Por exemplo, as pessoas com a acrofobia (medo de altura) podem ir repetidamente no Bondinho do Pão do Açúcar, no Rio de Janeiro, para acabar com o medo, mas ele pode ressurgir em momentos de estresse. Isso é perfeitamente explicável na química que rola entre córtex e amígdala, mas deixarei a parte científica para os profissionais da área.

Entrevistas com usuários

Hoje temos a facilidade da comunicação digital. A mesma pessoa que jamais levantaria a mão em uma sala de aula com duzentas pessoas pode escrever em um Medium da vida para duas mil sem pensar duas vezes (como estou fazendo agora). O designer, ou alguém que está fazendo a transição para a área, que acha difícil falar com estranhos presencialmente pode estabelecer um contato virtual e a partir daí estender esses relacionamentos para o mundo real.

Lembra o que comentei acima sobre a teoria do elástico? Enfrentar seus medos em doses administráveis é o melhor caminho. Esta foi a primeira dica que dei aos aspirantes.

Comece fazendo entrevistas online via Hangouts, por exemplo. Você conseguirá praticar a parte técnica das entrevistas, como a criação de roteiro, o tom de voz, os momentos propositais de silêncio, as anotações, etc., sem necessariamente sofrer toda a pressão de abordar um desconhecido no meio da rua. Com o passar do tempo você se sentirá mais confiante com a parte técnica e poderá se focar especificamente em melhorar sua postura com as entrevistas presenciais.

Outra forma para se acostumar com as abordagens presenciais é começar com as observações. É o que comentarei em seguida.

Observações

Pessoas altamente sensíveis processam informações sobre seus ambientes — físicos e emocionais — com uma profundidade rara. Elas tendem a perceber sutilezas que os outros não percebem — a mudança de humor de uma pessoa ou, digamos, uma lâmpada brilhando um pouco mais. Consegue perceber que habilidade incrível para designers?

A psicóloga Elaine Aron descobriu, inclusive, que pessoas sensíveis são altamente empáticas. Por mais que eu considere que o termo empatia é banalmente usado na comunidade de design, eu compreendo o que Aron quer dizer e como isso se aplica em nosso dia-a-dia como designers. As pessoas introvertidas tendem a ter a consciência surpreendentemente forte.

Aron e sua equipe de cientistas também descobriram que quando pessoas introvertidas veem rostos de pessoas passando por sentimentos fortes, elas têm mais estímulos do que outras nas partes do cérebro associadas à empatia e à tentativa de controle de emoções fortes.

Sobre as habilidades acima, Susan Cain entrevistou Tiffany, uma estudante de jornalismo que utiliza suas características introspectivas a seu favor no trabalho. Tiffany afirma que sua introspecção lhe possibilita ouvir atentamente, tomar notas detalhadas e fazer uma pesquisa profunda sobre o contexto dos entrevistados antes de encontrá-los pessoalmente. “Esse processo contribuiu para o meu sucesso como jornalista”, disse ela. Tiffany passou a aceitar o poder da quietude.

Se a introspeção de Tiffany lhe ajudou a ser uma jornalista melhor, o mesmo pode acontecer conosco, designers. A dica vale especialmente para aquelas pessoas que almejam seguir o caminho como pesquisadoras.

Resumindo

Designers introvertidos precisam confiar em si e compartilhar ideias da maneira mais poderosa que puderem. Isso não significa imitar os extrovertidos. Ideias podem ser compartilhadas por escrito, podem ser apresentadas em mini-talks, podem ser levadas adiante por colegas. A dica para as pessoas introvertidas é honrar os próprios estilos em vez de permitir que eles sejam dominados pelas normas prevalecentes.

“De uma forma suave, você pode sacudir o mundo” — Mahatma Gandhi

Use seus poderes naturais — a persistência, a concentração, o discernimento e a sensibilidade — para fazer o que você ama e com o qual se importa. Resolva problemas, pense profundamente. Descubra qual deve ser a sua contribuição para o mundo e contribua. Se para isso for necessário falar em público, fazer contatos ou desempenhar outras atividades que o deixam desconfortável, faça assim mesmo. Aceite que são atividades difíceis, faça em doses administráveis, treine o necessário e recompense a si mesmo quando concluir

Como comentei em minha última publicação, seja verdadeiro para si mesmo. Coloque-se a si mesmo sob a luz certa. Para alguns pode ser palestrar no Interaction Latin America 2018; para outros, uma escrivaninha iluminada.

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Andressa Siegel
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Written by Andressa Siegel

Fundadora Reinventa - @reinventasee

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